Olha aí que entrevista legal para o Natal de 2015! A banda carioca SILENT tem muita história no hard rock/aor brasileiro e já estava devendo um novo trabalho há pelo menos 15 anos! Em 2013 conversei com a banda (confira entrevista aqui) quando eles estavam preparando seu retorno. Naquela ocasião, falamos sobre o início de tudo, suas formações, trilhas em novelas, as gravações e lançamento do primeiro álbum, até o momento em que a banda retomava os trabalhos. Agora, a banda retorna à cena com um belíssimo álbum chamado "Land of Lightning". Lançado em Novembro deste ano, o novo trabalho mostra muita criatividade, competência e vem recheado de músicas marcantes com excelente qualidade de gravação. Com certeza trata-se de um dos melhores trabalhos do gênero já lançados no Brasil. Aproveitei a ocasião para conversar novamente com a banda e saber mais das composições, da gravação e vários outros detalhes dessa nova fase.
Espero que gostem! (Denis Freitas)
Novo álbum "Land of Lightning" no Itunes
Espero que gostem! (Denis Freitas)
ENTREVISTA - SILENT
Primeiramente, é um prazer tê-los novamente
na página. Lá se vão mais de dois anos desde nossa primeira conversa. Na época,
a banda estava retomando os trabalhos, mexendo em demos, revisitando gravações
e ideias antigas, testando músicos. Levando em conta tudo isso, mais as
dificuldades de se gravar hard rock no país, achei até que saiu rápido o novo
álbum. Qual a sensação para vocês? Como souberam qual era o momento ideal para
lançar o “Land of Lightning”?
Tilly: Denis, o prazer é todo nosso voltar a conceder uma entrevista
para você. Que bom que você resolveu voltar a escrever no blog, estava sentindo
falta de ler suas entrevistas. Bom, esse álbum pode parecer que saiu rápido,
mas, foram meses e anos de muito trabalho e dedicação. Nós começamos revisando
algumas ideias e músicas, mas antes disso reviramos todos os baús possíveis
atrás de músicas antigas, que não fizeram parte do “The Bright Side”, ouvimos e
as gravamos. Isso foi fundamental para
voltarmos a nos conectar com a banda. Quanto ao “Land Of Lightning”, eu
particularmente achava que sempre estava faltando uma música, que precisávamos de
uma música “X” ou “Y”, mas à medida que o Gustavo foi finalizando as músicas
dava para ver que tínhamos um álbum bem consistente. O Gustavo colocou um
deadline e assim foi. Se dependesse de mim, estaríamos fazendo o álbum até
agora (risos)
Gus: O primeiro estágio foi chegar à sonoridade, principalmente o som
da bateria. Nós gravamos no meu “home studio”, que no caso é um escritório bem
grande na casa onde eu moro. Batizamos o estúdio de Naked Butt em homenagem a
um quadro que tenho no estúdio e, quando conseguimos tirar o som que queríamos
da bateria, que levou quase um ano, começamos as gravações do “Land”.
A que se refere o título “Land of Lightning”?
Gus: É uma música que compus em parceria com James Rose quando eu ainda
morava nos EUA, por volta de 2004/2005. Jim é um poeta e escreve com uma
profundidade com a qual me identifico muito. Ela foi uma das primeiras a
adotarmos para o novo álbum e achamos o nome muito forte e de certo modo no
contexto do que a banda é.
Capa do novo álbum "Land of Lightning" |
Gostei muito de “Land of
Lightning”. Quando comecei a ouvir, parecia estar ouvindo outra banda, com uma
cara diferente e gostei bastante. Algumas coisas me chamaram a atenção. A
gravação e mixagem são muito boas, as letras mais maduras e o álbum soa
bastante homogêneo. Qual a opinião de vocês?
Tilly: Sem dúvida esse álbum é muito diferente do primeiro, mas acho
natural e bom que tenha saído diferente, era uma outra época, com certas
influências. Com o passar do tempo ouvimos coisas diferentes, a própria vida
fez com que a gente encarasse e olhasse de forma diferente para tudo. Alguns
casaram e tiveram filhos, outros se separaram, houve um amadurecimento natural.
O SILENT sempre foi uma banda de 2 guitarras e no “The Bright Side” meio que
ficamos empolgados com o timbre do teclado. (risos) Não que eu não goste do
álbum, mas, se tivéssemos oportunidade de remixá-lo, sairia um pouco diferente.
Alex Cavalcanti: Creio que seja o reflexo da
nossa maturidade e da forma como nos relacionamos com a música hoje em dia. Em
“Land of Lightning“, nós buscamos fazer o som que realmente gostamos de tocar e
ficamos muito felizes com o resultado final do álbum.
Gus: Grande parte da identidade do álbum
são as letras e a despreocupação com a identidade. As composições fluíram
naturalmente, porém os arranjos foram todos feitos durante as gravações, e isso
tem muito a ver com o resultado. Tivemos que colocar muita alma enquanto
gravávamos e tínhamos que confiar muito uns nos outros. Muitas músicas só
descobrimos como eram depois de mixadas.
Douglas
Boiago: A sonoridade de nossas músicas está diretamente ligada ao que vivemos
nos dias atuais, claro que permeada pelas nossas referências. As letras são
inspiradas e "uplifting", acho que a maturidade, na composição do
Gustavo, faz com que ele compartilhe muito mais seus objetivos como ser humano. A qualidade
sonora do trabalho final é graças ao nosso amado Gustavo Andriewiski que manda
muito bem na mixagem, mas, acima de tudo, nós como banda somos grandes amigos,
buscamos sempre a harmonia em todas as frequências.
Gustavo. Você produziu, gravou, masterizou e mixou o
álbum, além de ter composto músicas e letras, cantado, tocado guitarra e
teclado. Acho que merece receber maior cachê (risos). Em algum momento pensou
em se afastar um pouco por cansaço ou achou que deveria se envolver menos?
Gus: Eu amo o que eu faço, então de certo
modo, fazer o álbum me “descansava”. É logico que o meu cachê é de 1 milhão e o
da galera é de 999 mil, mas eles estão felizes.
Falando um pouco de letras agora, parece-me
que você gosta bastante de tratar de existência, espiritualidade, relações
humanas e impressões diversas sobre o mundo. Quais suas maiores inspirações
para escrever: filosofias e teorias ou acontecimentos pessoais?
Gus: Um pouco de tudo o que citou. Eu estudo
e vivencio a espiritualidade em níveis muito íntimos. Acredito profundamente
que estamos passando por profundo despertar e que todo o caos e extremismo que
vemos no mundo de hoje é um último esforço das sombras que todos carregamos em
se manter na ilusão da desigualdade e separação. Já já acordaremos em
definitivo e começaremos a reconstruir uma existência permeada pelo amor, longe
do medo, focados em nossas semelhanças e logo, diminuindo nossas diferenças.
A quinta faixa, “Numb”, empolga demais,
mostra uma cara diferente do SILENT. Com vocais mais rasgados, guitarras mais
pesadas e clima bem sério. Para mim é a melhor do álbum. Como surgiu a música?
E a letra, trata-se de alguma crítica? Qual a intenção?
Gus: A origem é um riff de guitarra que eu
fiz ainda nos anos 80. Sempre quisermos usar esse riff mas nunca havíamos
encontrado uma oportunidade. A letra é em parte fruto da minha inclinação por
teorias conspiratórias. Eu havia me mudado para os EUA 2 semanas antes do 11 de Setembro. E quando vi aquilo acontecendo imediatamente tive uma sensação na
boca do estomago, a sensação de que havia algo oculto por trás daquilo. Na
época eu não era ligado em conspirações nem nada do tipo. A letra fala sobre
como nossa apatia e sede por tragédias sustentam a nossa visão do mundo, que,
enquanto nos fere profundamente quando experimentamos na pele suas dores, pela
televisão ou pela internet, de um modo invertido e sombrio, nos entretêm.
Qual
ou quais são as músicas mais novas que entraram no álbum? Sei que tem ideias e
músicas mais antigas. “Gravity” e “Dancing in the morning light” me fazem
lembrar do primeiro álbum, quando foram compostas?
Tilly: A “Gravity” foi composta em 2012, porém, foi uma das que mais
demoraram a sair, mudamos andamento, refrão pelos menos umas 3 vezes,
melodias...essa deu trabalho e correu sério risco de ficar de fora. A “Dancing In The Morning Light” tem uma história curiosa, ela foi
feita para nossa antiga banda REPPLICA, que cantava em português e tinha como
componentes eu, Gustavo e França, mas, só tinha a melodia e o instrumental,
pois o Gustavo não conseguia fazer a
letra. Nós gravamos e deixamos encostada. Quando começamos a preparar o disco do
SILENT, o Gustavo fez a letra em inglês e gostamos bastante do resultado. Porém, achamos que não se encaixaria no álbum, achávamos ela muito diferente. Quando o Gustavo aprontou 4 músicas, vimos que ela teria lugar no álbum. Então
eu regravei a batera, o Gustavo a guitarra e o Douglas gravou o baixo e
mantivemos a guitarra do França. (Nota: Alexandre França foi guitarrista da banda, faleceu em 2011)
A
locação do vídeo de “Around the Sun” na cidade maravilhosa é muito legal. Pode
falar um pouco sobre o local e como ocorreu a escolha dele?
Tilly: Como tudo nessa banda acontece meio que por acaso, a locação não
poderia ter sido diferente.
Nós temos um vídeo editado com takes da gente gravando a música e esse
seria o clipe, mas o Gustavo queria acrescentar uns takes da gente tocando com
o pôr do sol ao fundo, então eu fui falar com um dos donos onde trabalho se eu
poderia usar o telhado para fazer uma filmagem rápida e ele me perguntou: Você
não prefere o terração do Centro Empresarial Mario Henrique Simonsen? (Nota: O prédio fica na Barra da Tijuca com uma bela vista do Rio de Janeiro)
Gostei
muito das guitarras, dos timbres e do peso que deram para o álbum, deixando com
uma cara mais moderna. “Numb”, “The One Within” e “Home” mostram bem isso. Sei
que você acompanha as novas bandas e sempre está ouvindo algo novo. Você
costuma mostrar algo para a banda ou tenta incorporar na música de
alguma forma? Quais bandas costuma ouvir hoje em dia?
Tilly: Eu sempre mostro o que eu estou ouvindo para o Gustavo. Sempre
que algo me chama a atenção, tento usar nas músicas. Algumas bandas me chamaram
a atenção como: H.E.A.T e ECLIPSE para ficar no campo do AOR/Hard, não podemos
esquecer de TOTO, que está com um disco muito bom, DEF LEPPARD, F.M, TRIXTER, puts, são tantas bandas que lançaram disco
ultimamente. Mas tem algumas que são rock, mas, não necessariamente hard que
me chamaram muito a atenção, BLACKBERRY SMOKE é uma delas, o outro seria o
último disco do KID ROCK. Agora tem um cara que eu já curtia e estou me
tornando cada vez mais fã, que é o DAN REED, tem lançado discos excelentes. Já que você citou essas 3 músicas do SILENT, vou contar algumas
curiosidades sobre elas. “Numb", o riff inicial dela vem de
uma música da primeira banda que tive com o Gustavo, ele apenas mudou o
tom. Foi a última música feita e gravada e também a única que contou com nós 4
ensaiando e arranjando. “The One Within”, quando o Silent esboçou um segundo disco em 2004, o
França aprontou 2 músicas e mandou para o Gustavo colocar a melodia e letra,
daí nasceu a “Blindness”. Com o álbum todo gravado e faltando 2 dias para o
nosso deadline, o Gustavo resolveu mudar a melodia e letra da “Blindness”, o
resultado foi “The One Within”. “Home”, eu ficava dizendo para o Gustavo que o disco teria que ter
mais uma música com um riff de guitarra e ele veio com essa.
As
três primeiras músicas do álbum são bem melódicas e com clima mais pra cima. E,
coincidentemente (ou não?), após a faixa “Gone” - que usa “goodbye”, vem a
faixa “Hello Hello”. Essa música gruda logo na cabeça e nela é possível notar
as diferentes camadas com diferentes elementos percussivos e teclados,
principalmente no refrão. Pode comentar que instrumentos foram usados nela?
Tilly: As músicas são bem para cima mesmo, foi uma coincidência isso de
Goodbye e "Hello, Hello" e logo após tem a “Bye Bye Superman” (risos) O Gustavo comentou que ele gostou bastante de como ficou a mix da
“Hello, Hello”. Nela eu usei alguns instrumentos de percussão: maracas e
pandeiro. Na intro tem muita coisa rolando, tem guitarra fazendo o tema, um
teclado com um som bem esquisito fazendo esse mesmo tema e o Gustavo fazendo
com a voz também, o resultado disso tudo junto mais as percussões ficou bem
bacana.
Gus: É minha mixagem preferida, junto com "Numb"
Esq.- Alex Cavalcanti (guit.), Gustavo Andriewiski (vocais/guit.), "Tilly" (bateria) e Douglas Boiago (baixo)
Alex Cavalcanti (guitarra) e Douglas Boiago (baixo) fazem parte agora da nova formação da banda. Podem
contar um pouco da história de vocês na música e como surgiu o convite para
entrarem para o SILENT? Já conheciam o trabalho da banda? Quais suas
influências?
Alex Cavalcanti: Sou guitarrista há 30 anos e
já toquei com diversas bandas e artistas. Eu já conhecia o pessoal do SILENT antes mesmo da sua fundação. Acompanhei as primeiras gravações da banda e até
participei rapidamente de uma das formações em 1994. Minhas influências são: QUEEN, DEEP PURPLE, LED ZEPPELIN, JIMI HENDRIX, VAN HALEN, BLACK SABBATH, RUSH, etc.
Douglas Boiago: A música me foi apresentada através da
igreja, cresci entre músicos e coros vocais. Sou baixista há
15 anos, tocando em bandas e bares. Conheci o Gustavo nos
anos 2.000 nos Estados Unidos, onde tocamos juntos e nos tornamos grandes amigos desde
então. O convite veio quando decidiram retomar a banda, e com muito orgulho e
prazer aceitei o convite.
As minhas referências musicais são um pouco diferentes
dos demais, tenho uma década de diferença na idade (risos). Minhas influências são:
BREAKING BENJAMIN, SWITCHFOOT, LIFE HOUSE, THREE DAYS GRACE, CREED, PERFECT CIRCLE, FUEL, SOJAH, BOB MARLEY, DJAVAN, entre outros. Eu gosto de Reggae e música brasileira também,
inclusive uma boa moda de viola.
Vocês tem conseguido espaço para tocar no Rio de Janeiro? Quais os planos daqui para frente?
Tilly: Os espaços aqui no Rio são muito limitados, principalmente para bandas autorais e em re- início de carreira. Os que abrem para estes tipos de banda são muito underground. Os planos para o futuro são: ensaiar bem as músicas, montar um show e sair tocando por aí. Fazer uma mídia física do disco, pois tem muita gente que quer o cd. Para eles não basta poder ouvir as músicas, tem que ter o disco na estante, tem que poder manusear o encarte, ler os créditos, etc. Eu sei muito bem como é, pois sou assim (risos)
Gus: Temos também a produção de mais 2 ou 3 videoclipes e estamos buscando espaços fora do Brasil onde a cena é mais forte.
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